Ancestralis
Amazônia, Ancestralidade, Natureza

A Amazônia Desidratada: Impactos e Desafios da Seca Prolongada

Ancestralis, 1 ano atrás | 3 min de leitura

Conhecida como o “pulmão do planeta”, a Amazônia enfrenta agora um dos maiores desafios de sua existência: a seca e a estiagem prolongadas. Este fenômeno não só ameaça a biodiversidade rica e única da região, mas também afeta as comunidades indígenas e locais que dependem da floresta para sua sobrevivência. Com essa publicação buscamos entender as causas, consequências e soluções possíveis para esta crise silenciosa.

Cientistas acreditam que a seca atual que afeta múltiplos rios pode ser a maior seca já registrada na região amazônica. No dia 16 de outubro, a medição do nível do Rio Negro em Manaus registrou o ponto mais baixo desde 1902: 13,59 metros, o que fez com que o nível da estiagem também atingisse seu ponto mais baixo, que antes havia ocorrido em 2010. 

Em secas passadas, milhares de pessoas foram afetadas, com a falta de água, alimentos, combustível e energia. Nesse ano, inúmeros municípios já começaram a sentir o impacto das secas, com a falta de água e acessibilidade a algumas áreas, dado que grande parte do transporte na região é feito por barcos. 

Causas

Mas o que exatamente levou a essa grande seca na região? Cientistas apontam para dois fatores principais, o fenômeno do El Niño e o aquecimento do Oceano Atlântico. Os dois fenômenos não só causam o aumento da temperatura dos rios, mas também, afetam o volume de chuva especificamente na região Norte do Brasil. 

A água de temperatura elevada que chega no litoral brasileiro “inibe a formação de nuvens, e por consequência, das chuvas”, de acordo com Senna, do INPA. O que levou a um nível de chuvas menor que o normal durante a estação chuvosa, ou seja, na época de seca, os rios já estavam a um nível menor que o esperado para o início da época. 

Impacto no Meio Ambiente e Seres Vivos:

A seca afeta diretamente a saúde das florestas da Amazônia, diminuindo a umidade do solo e tornando as plantas mais suscetíveis a incêndios, o que é confirmado pelos 7 mil focos de queimada durante o mês de Setembro – o pior mês deste ano, e 4.000 focos acima da média. 

A queimada não só mata a fauna e flora, como também reduz a capacidade de regeneração da vegetação, o que faz com que animais enfrentem a falta de alimentos e água. O que por sua vez leva a diminuição da biodiversidade da área afetada e um possível risco de extinção. É um círculo vicioso onde a fauna e flora são continuamente afetadas por longos períodos de tempo.

Além disso, o aumento da temperatura dos rios e por consequência a seca também afeta nossos ecossistemas aquáticos. O aquecimento da temperatura faz com que muitos animais não sobrevivam, como foi o caso no lago Tefé, onde a temperatura subiu 10 graus acima da média, atingindo 40 graus celsius. Esse aumento causou a morte de botos e inúmeras espécies de peixes, incluindo o pirarucu, que são cruciais para a alimentação e economia da população local. 

Impacto nos Povos

O principal meio de transporte da região é através dos rios, e com as estiagens significantes nos rios, muitas localidades estão inacessíveis devido ao fato que os barcos não conseguem passar pelas áreas em seca. Populações indígenas e comunidades ribeirinhas, que têm uma relação direta com a floresta, enfrentam insegurança alimentar devido à menor disponibilidade de peixes e frutos da floresta. A escassez de água potável é outro grave problema, levando a um aumento de doenças e a um maior esforço diário para a obtenção de recursos básicos.

Além disso, os povos locais também são afetados economicamente. As atividades econômicas baseadas nos recursos naturais da Amazônia, como pesca, extrativismo e turismo, estão em declínio. Isso leva a um ciclo vicioso de pobreza e degradação ambiental, pois as comunidades tentam compensar a perda de renda com atividades potencialmente danosas ao meio ambiente, como a derrubada ilegal de árvores.

No estado do Amazonas, que foi o mais afetado, 55 dos 62 municípios decretaram estado de emergência. Nos estados do Acre e Rondônia já houveram outros municípios em estado de emergência. É possível que algumas comunidades tenham de ser deslocadas por conta das mudanças climáticas na região.

Conexão Ancestral e o Cuidado com a Amazônia

A crise atual da Amazônia nos obriga a refletir sobre a conexão ancestral entre os seres humanos e o meio ambiente. As práticas e saberes tradicionais das populações indígenas evidenciam uma relação de interdependência com a floresta, onde o respeito e a sustentabilidade são valores centrais. Preservar a Amazônia vai além da responsabilidade ambiental; é um ato de reconhecer e honrar uma herança milenar que nos ensina sobre o equilíbrio e a harmonia com a natureza. Ao negligenciarmos essa conexão, rompemos com um elo fundamental da nossa existência e bem-estar.

A situação exige ações conjuntas e estratégias adaptativas. A conservação de áreas úmidas, o reflorestamento e a criação de sistemas de manejo de recursos hídricos são vitais. A educação ambiental e o fortalecimento das políticas públicas de conservação e desenvolvimento sustentável se mostram como caminhos possíveis para mitigar os efeitos da seca.

Conclusão

A crise da seca na Amazônia não é apenas um alarme ambiental, mas é um grito de socorro, que nós olhamos como ‘post-it’ e geralmente deixamos em segundo plano. Devemos tomar uma posição ativa na proteção do meio ambiente e despertar a nossa consciência coletiva. As consequências desta devastação vão muito além das fronteiras da Amazônia, afetando o equilíbrio climático global e a saúde do nosso planeta. Cada árvore derrubada, cada rio que seca, é um golpe contra a própria essência da vida na Terra.

Cada medida tomada para preservar a floresta e apoiar as comunidades locais reflete em um benefício global, enfatizando a interconexão entre as ações locais e os impactos globais. Ao nos educarmos e participarmos ativamente em práticas sustentáveis e políticas de conservação, podemos ajudar a Amazônia a se recuperar e a continuar sendo uma fonte vital de vida e biodiversidade.

Relacionados